quinta-feira, março 23, 2006

A história do Çairé




Çairé

A palavra Çairé origina-se dos dois termos Çai Erê, que significa “Salve! Tu o dizes”, que era usada pelos índios como forma de saudação.
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Originariamente, a Festa do Çairé era um baile indígena (puracê), cujos festejos, revelavam desde o primeiro século da colonização, já a influência das missões católicas. Era uma "corda em giro", ou melhor, uma espécie de dança de roda conduzida por um "arco", que era o motivo indígena desse préstito e festival, o centro geométrico de um animado puracê (baile). Tal arco era um semi-círculo com diâmetro e raios todos assinalados em algodão, onde deles pendem fitas vermelhas. Era ornamentado ainda, com uma cruz forrada e enfeitada, revelando o símbolo católico que o jesuíta acrescentou ao outro símbolo pagão o qual, pela forma geométrica revelada, denotava sua origem em povos americanos de civilização mais avançada, quais os astecas e os incas. É um exemplo de como foi o missionário mestiçando a fé católica, através da dança e do canto, para catequizar o índio e dominá-lo por fim. Transformou-se portanto, em uma cerimônia religiosa e profana, onde entram nela a reza e a dança. Essa, consistia em passos curtos, como o de marcar passos dos soldados, com um movimento em que uma índia do centro servia de eixo sobre o qual girava o Çairé.

O cântico era uma melopéia triste, monótona e rouca. E os versos?...
"Ito camuti pupé neiassucá pitani puranga ité", assim traduzidos:
"Em uma pia de pedra foi batizado um belo menino".
E logo o estribilho por todos repetido:
"É Jesus, é Santâ Maria.
"Santa Maria cunhã poranga imembira iaué catu, iputira ipop".

Tradução:
"Santa Maria é uma mulher bonita e seu filho como ela, com uma flor na mão".

Com o passar do tempo, a Festa do Çairé foi incorporando características populares com o acréscimo de danças e folguedos. Tais modificações fizeram com que a Igreja proibisse a sua realização em 1943. Somente em 1973, os moradores da vila Alter do Chão resgataram o evento, conservando mais o cunho folclórico do que religioso. A festividade era comemorada no mês de julho e posteriormente passou para a primeira quinzena de setembro.
A Festa do Çairé é ainda hoje, realizada anualmente no Estado do Pará, na vila balneária de Alter do Chão (Santarém), sendo uma brilhante manifestação popular, constituindo o maior evento folclórico da região.

O Festival permanece misturando elementos religiosos com profanos, apresentando inúmeras manifestações folclóricas, traduzidas através do boto Rosa e do boto Tucuxi.
Alter do Chão era o local de uma antiga aldeia dos índios Borari, que recebeu, com a chegada dos jesuítas, o nome de Missão de Nossa Senhora da Purificação. Como obteve desenvolvimento próprio, a aldeia foi levada à categoria de vila a 06 de março de 1758, com o nome português de Alter-do-Chão. A vila é privilegiada por seus belíssimos atrativos naturais como o "Lago Verde" dos Muiraquitãs, os amuletos sagrados das Amazonas.

COMPONENTES
- Um juiz e uma juíza que são as figuras principais, a quem cabe a organização da festa.
- Um Procurador e uma Procuradora, que substituem os juízes quando necessário.
- Um Capitão que determina o movimento do Barracão do Çairé e o cerimonial. Comanda a disposição dos mordomos na procissão. Prende as pessoas que não se portam com o devido respeito dentro do Barracão do Çairé.
- Dois Rufadores de Caixa (foliões), pessoas que acompanham a procissão, tocando e cantando.
- Dois Alferes, que são os portadores das bandeiras dos juízes: uma vermelha e uma branca, tendo ao centro o desenho de uma pombinha que representa o Espírito Santo.
- Nove mordomos e nove Mordomas, as quais são atribuída a execução dos trabalhos necessários para a realização da festa (construção e decoração do Barracão do Çairé, ornamentação da praça, limpeza, etc.).
-Um Sargento que colabora quando necessário.
-Uma Saraipora, que é a mulher que conduz o Çairé.

A festividade inicia-se uma semana antes, com a passagem "Busca dos Mastros". Barcos e canoas são adornadas para levar mordomos, procuradores e juízes pelas matas para encontrar as toras que servirão de mastro, para a abertura da festa. Os troncos escolhidos são enfeitados com folhas, flores e frutos e levantados em competição acirrada entre homens e mulheres para ver qual do grupo consegue levantar o mastro primeiro.

A festa do Çairé começa em uma quinta-feira com uma procissão e carrega os mastros preparados uma semana antes. Um deles é levado por homens e o outro por mulheres. Na frente do cortejo, segue a Saraipora, a mulher que conduz o Çairé.

A procissão se repete todos os dias ao meio-dia com um breve ritual em torno dos mastros. Às sete horas da noite ela contorna a praça e dirige-se para o Barracão do Çairé onde é cantada a ladainha, em latim. Todos os dias no encerramento há a cerimônia do Beija Santo. A juíza, sentada em uma cadeira, com uma estola branca no colo, coloca a Coroa que representa o Espírito Santo. Obedecendo a uma hierarquia vão, o juiz, os mordomos, os procuradores e demais assistentes, que reverenciam e beijam a Coroa. No momento em que a juíza vai fazer a reverência é o juiz que da mesma maneira coloca a estola e deposita a Coroa no colo.
O grande evento conta ainda com torneios esportivos e um festival folclórico, com apresentação de grupos que mostram ao público toda a riqueza cultural da região.

Paralelo ao lado religioso há a famosa disputa dos botos Tucuxi e Cor de Rosa. Esse confronto surgiu em 1997, com objetivo de preservar e divulgar essa lenda que é um dos mais perfeitos retratos da Amazônia.

Um espaço físico conhecido como Çairódromo serve de palco para realização dos shows musicais e a apresentação cênica dos botos. Com belas e criativas fantasias, além de alegorias gigantescas Tucuxi e Cor de Rosa, resgatam lendas da cultura amazônica, atraindo milhares de pessoas à hoje conhecida como "caribe dos rios", Alter do Chão. A 32 Km de Santarém, essa aldeia de pescadores situa-se no coração pulsante da Amazônia. Localizada à margem direita do rio Tapajós (afluente do rio Amazonas), famoso pela cor esmeralda de suas águas, é aqui que encontramos o quadro mais bonito pintado pelos deuses indígenas: praias exóticas e primitivas de areias alvíssimas que formam cordões dourados ao longo do rio, dunas e mangue, tornam o lugar um verdadeiro paraíso caribenho, que já é parada obrigatória dos cruzeiros marítimos.

A vila de Alter-do-Chão abriga ainda, um Centro para Preservação da Arte, da Cultura e da Ciência Indígena (CPAI), conhecido como Museu do Índio, onde podem ser encontrados objetos raros e a história de 70 tribos da região amazônica.

Além disso, sabemos que a Amazônia é um Palácio Encantado de lendas, onde à beira de seus rios escutam-se traiçoeiros jacarés, ou passeiam nostalgicamente jacamins e mutuns, mas nada se compara a um peixe irrequieto e inofensivo, para o qual são atribuídos malefícios donjoanescos. Se uma donzela tiver a má sorte de se deixar enlear nas falas mansas e enganadoras de qualquer moço ágil, já se sabe que foi o tal peixe, o boto, que a fantasia ingênua dá formas galantes de Dom João agreste, o maldito que a seduziu.

O Boto tem inspirado inúmeras criações de danças que retratam a sua lenda, mas é na festa do Çairé que encontramos o mais bonito desenrolar teatrólogo de sua morte e ressurreição. É no Çairódromo que entram em cena as performances destes botos. A quadra é dividida em duas facções e como os rios Tapajós e Amazonas os botos se apresentam no mesmo espaço, mas sem se misturar.

Adaptada para o folclore, a "lenda do Boto" apresenta além das já conhecidas personagens de sua estória, figuras que expressam a cultura do Çairé de Alter do Chão como a Rainha do Çairé, Rainha do Artesanato, Índios, Curandeiros, etc. O espetáculo apresentado provoca comoção, que sem dúvida, coloca a Festa do Çairé na berlinda dos grandes e imperdíveis eventos nacionais.

No último dia é quando a animação contagia toda a vila e acontece a "varrição da festa, seguida da disputadíssima derruba dos mastros. Segundo a tradição, todo aquele que conseguir apoderar-se de uma das frutas com as quais foram decoradas os mastros, além de ter o prazer de degustá-la, terá muita sorte. Ocorre em seguida, a Cecuiara,ou seja, um delicioso almoço de confraternização com pratos típicos da cozinha mocoronga à base de peixes da região como: tucunaré, tambaqui, jaraqui, pirarucu, acari e curimatá, além várias outras espécies como o apapá, traíra, tranquinha, charuto, aracu, pirapitinga, piranha, pacu, mapará, surubim e tantos outros.

A noite, acontece o encerramento com a "Festa dos Barraqueiros".

A Amazônia, para nossa felicidade, é um não acabar de lendas, de festas e de interesses folclóricos, um verdadeiro laboratório onde se transformam e temperam as energias humanas. Povoam ainda, nessa imensa região, a imaginação de seus habitantes simples, que interpretam a seu modo a natureza doce e tumultuária desse paraíso verde.

A nós, só cabe abrir os olhos, pois nada no mundo se iguala a esse magnífico espetáculo que a natureza nos oferece!

"Texto pesquisado e desenvolvido por
ROSANE VOLPATTO
Material colhido pela internet: http://www.rosanevolpatto.trd.br/festacaire.html "

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