terça-feira, abril 25, 2006

Carta a uma amiga apaixonada

Caríssima,

Não poderia eu, inquisidor no limite que me permite o outro, deixar de questionar nada nesse mundo. Principalmente se o assunto é de amor, esse sentimento que de tão nobre, ao ser confundido passa a ser demente, ao permitir-se, pelo desvio da loucura, que é a paixão, esse entender abstrato que consome a vida de um em detrimento da suposta felicidade do outro, numa via de mão única, em que sempre colidem, por trafegar na contramão da razão, esses ímpares seculares: amor e paixão.

Me parece, por tudo o quanto andei ouvindo nesses anos de vida, que os amantes são infelizes ao pretenderem dar longevidade a esse sentimento ao invés de transmutá-lo diariamente ao convívio pacífico da razão.

Daí permito-me, com a devida vênia da querida amiga, tecer estas considerações pertinentes ao tema, é certo, desenvolvido por algum coração inspirado pela benevolência inicial a que se submetem todos que desta forma de amor conhecem apenas os primeiros passos.

Estou parecendo, assim te falando, que pouco ou quase nada desse sentimento cultivo. Mas não é bem assim, minha querida amiga, e sabes disso. Meu conceito ao tema, que é avalorativo, dada sua subjetividade, afinal por ele matam e morrem uns e outros, não é dos melhores. Prefiro o companheirismo saudável; a amizade sincera; a sociedade conjugal fática; o cumprimento recíproco das obrigações para consigo e prole respectiva e a satisfação dos libidos, que os anos por si só enfraquecem, movidos pelas menopausas e andropausas da vida. Ou que se enfraqueçam por si mesmos, no acostumar-se do cheiro, tato e paladar, que a mãe natureza, inteligentemente movida pela razão divina, tratou de enfastiar-nos.

Seria isso amor ?

Não quero ser duro, mas minha razoabilidade não me permite o amor na forma conceitualmente aferida. Sou razão, cara amiga, mesmo quando me determino à busca de algumas GRANDES emoções, que por força da dita razão, por si só se justificam. Entre elas está a MIRA, objeto maior de minhas realizações; companheira inseparável no sol e na sombra; mãe dos meu filhos queridos; sócia de inegável valor patrimonialmente agregado; ouvinte de tamanha leveza, que chega a me ensurdecer com o silêncio de seu olhar cauteloso diante de minhas falsas eloqüências.

Seria isso o amor ?

Se for, concordo com você e com o texto que me enviastes. Poeticamente perfeito. Politicamente incorreto. Estou te falando com a razão a que me proponho, pois, posso te dizer com alguma propriedade, que de razão e coração conheço muito; se poucas emoções me permiti viver, das razões a que me propus, em todas elas, foi mais alcançável o objetivo final que a do outro, o coração, sempre vencido, quer ganhe ou perca: por maledicência da natureza o coração é sempre perdedor.

Isso tudo ( ou esse nada de que te falo ) não tem a pretensão de te corrigir a rota, ou a indagação discreta de sequer sabe-la. Mas seria negar o óbvio, que não me permito em respeito a sua inteligência, nem a minha, se negasse a mim mesmo o que vejo passar em seus olhos tristes. Que os vi.

Mas nada há de mais comovente que um coração que chora. E eu já vi o seu chorando. Mas ai vai um paradigma final para ser quebrado: “Dizem que no mundo há dois tipos de pessoas – As que choram e as que vendem lenços”. Onde estás ?

Um abraço do amigo !

PP

1 Comentários:

Blogger Unknown disse...

Dizem que no mundo a dois tipos de pessoas: as que choram e as que vendem lenço. As vezes por mais dificil que seja precisamos usar a razão...Tio explica melhor a sua frase,beleza??!! De qualquer forma adorei!!!

bjoo

outubro 27, 2009 7:28 AM  

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