terça-feira, abril 25, 2006

Carta a uma amiga apaixonada_2

Caríssima

Terminei de ler uma obra muito interessante: A História da Humanidade. Na realidade a história dos homens. Mas a bem da verdade, mesmo, a história do homem, que não a mulher. Isto porque, pelo que estou a concluir, não existe parte de história alguma nesse mundo de meu Deus, não importa se geografia, física ou filosofia, entre tantos outros, que não seja um retrospecto da relação de interesse do homem, do macho, com estas ditas coisas.

Deves estar pensando, querida, onde entro eu, nesse contexto? Podes apostar que estou sorrindo. Mas não de deboche, pela presumível falta de previsibilidade que meu ingrato senso de valor possa estar a te imprimir. Nada disso. Sorrio por que gosto de sorrir quando escrevo coisas que me agradam. (para pessoas que me agradam, no que peço permissão para incluí-la). Ocorre, que tem muito mesmo a ver contigo.

A humanidade, minha cara, é prepotente ao ponto de eleger-se filha direta do Criador quando ousa afirmar ter sido criada à sua imagem e semelhança. Uma absoluta inversão do ônus da prova. Ousando assim, dizem terem sido concebidos por mero narcisismo, ao se julgarem perfeitas. Isto porque, em sendo a espécie mais imperfeita entre todas do universo, é o mesmo que determinar ser o Criador, por igualdade e semelhança, imperfeito também. Quanta pretensão dessas criaturinhas engenhosas. Insignificantes construtores de muros, como bem o dizes.

Mas afinal o que é perfeito e o que é imperfeito? Seriam subjetivos estes conceitos? De modo geral sim, cada um acha o que bem entender de certo e de errado. Mas existe um básico conceito que determina objetivamente estes dois elementos. E se formos analisar, apenas pra brincar um pouco com a fértil imaginação a que fomos condenados, poderemos fazer alguns paralelos entre algumas espécies, também criaturas divinas, e a nossa condição humana. Te garanto que estamos em desvantagem, logo de cara, com a raposa e o pelicano, espécies que são solidárias até a morte na constituição de suas proles, na solidariedade com seus pares no grupo social em que vivem. E por ai vão um sem número de exemplos que o DISCOVERY CHANEL mostra 24 horas por dia na TV a cabo.

Deves continuar a te perguntar: Espera aí, amigão, e onde entro eu nessa história? Vou te conduzir, minha cara, pouco a pouco, nesse intricado mundo de verdades relativas e mentiras absolutas. Entre elas, a paixão (paixão ou amor? ou teria outra expressão para definir a invasão de privacidade que promovemos com o outro? Nunca consegui definir bem esses ditos pares de sentimentos...), entre outros males.

Devo afirmar, pela experiência dos meus 48 anos de vida conjunta com outros humanos, isto porque o homem já descobriu tudo nesse planeta, que não há ilha deserta alguma que eu possa me refugiar como ermitão, que a liberdade a ser conquistada quando se divide o mesmo leito com um estranho, é algo quase inalcançável neste universos de diferenças que nos dividem enquanto sujeitos ativos de direitos e obrigações recíprocas. E não há felicidade sem liberdade.

Aí entra você, minha cara. Demorou mas chegou.

Já repensastes no conceito de liberdade que firmastes com teu par estes anos todos? Não o conceito objetivo, mas o teu, aquele que te repreende ou amargura ou te regozija em face do outro. No seu fazer ou não fazer em relação a ti. Na ação ou omissão com que teus interesses pessoais são tratados. E para isso minha querida, não há previsão de reciprocidade. Parece estranho não? Como não haver recíproca? Como dar sem receber? Injusto?

Por mais acertado que seja o objeto do contrato que determina estas tais relações conjugais, de direito ou de fato, o que conta mesmo não é o formal. Pode ser que todas as cláusulas legais estejam sendo cumpridas na mais perfeita harmonia; o que conta mesmo são as diferenças. O conjunto de desigualdades que nos obriga a ser desiguais nesta relação. Lembremos que “os desiguais devem ser tratados na medida de suas desigualdades. Tratar desiguais com igualdade é desigualdade flagrante”. Desta premissa deduz-se que o que esperamos receber do outro não significa ser exatamente o que daremos. E o inverso se aplica.

Seria pretensão desdizer o senso empírico que afirma ser a felicidade a dois uma eterna troca de submissões? Eu acredito nisso.

Abraços

PP

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