domingo, setembro 14, 2008

O Ocaso dos Anjos ( introdução)

O OCASO DOS ANJOS



Esta é uma obra iniciada e ainda inacabada, a qual apresento a introdução. Espero ianda este ano encerrá-la.



Faço a abertura com um poema de Olavo Bilac - pertinente como poucos à conduta humana.

" Não és bom, nem és mau: és triste e humano...

Vives ansiando, em maldições e preces,

Como se a arder no coração tivesses

O tumulto e o clamor de um largo oceano.

Pobre, no bem como no mal padeces;

E rolando num vórtice insano,

Oscilas entre a crença e o desengano,

Entre esperanças e desinteresses.

Capaz de horrores e de ações sublimes,

Não ficas com as virtudes satisfeito,

Nem te arrependes, infeliz, dos crimes:

E no perpétuo ideal que te devora,

Residem juntamente no teu peito

Um demônio que ruge e um deus que chora.

(Olavo Bilac)


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Muitas vezes em minha vida optei pela descrença. Julguei e condenei qualquer coisa em que não fosse possível um mínimo de lógica, decretando ao Criador, como se poder tivesse para decretar tal coisa, absoluto objeto da fé de uns, fanatismo de outros e necessidade absoluta da maioria esmagadora que criava seus próprios deuses para satisfazerem seus desejos inalcançáveis. Se por este método não resolvia, na pior das hipóteses, dava-lhes força para esperar o milagre, que via de regra não acontecia, facilitando-lhes o convívio com a dor e preservando a esperança, fruto da fé, objeto finalista dos que crêem. Até porque os milagres que os homens querem estão sempre fora do alcance dos deuses, que na solidão de seu poder não conseguem, sem a cumplicidade destes tais necessitados, milagre algum fazer.

Nestas histórias de milagres e padecimentos, em que algumas são sagradas, a dor transita na mesma faixa da esperança, na contramão da fé e, na arredia falta de convicção de si mesmos, perambulamos todos nós, crédulos e incrédulos, no exercício diário de pagas e promessas, ora cumprindo-as, ora negociando com nossos deuses e demônios. Isto porque alguns deles, deuses ou demônios, terminam por operar milagres, satisfazendo desejos que por si mesmos conseguiriam suas criaturas se melhor acuidade tivessem no diligenciar de seus atos, onde, no mínimo, rendessem às suas divindades, ao fim do dia, os créditos de seus acertos e perdões pedissem pelos deméritos auferidos.

E foi assim que roguei a todos os deuses e demônios naquele momento de desespero, por não saber a qual deles servia meu assustador visitante, que um milagre ocorresse e aquela criatura pequenina e de formato angelical desaparecesse da minha frente, ou do meu lado, como de fato estava. O milagre não ocorreu, não porque me faltasse acuidade ou diligência, como sentenciei, mas por absoluta falta de impropriedade material. De fato estava ali o anjo. Eu e ele, disputando a mesma cama. Eu, de meu lado, temeroso. Ele, pelo que se via, muito mais interessado em chamar minha atenção.

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